O modelo de jornalismo da Globo está em transformação
Foi José Bonifácio de Oliveira, o Boni, tido como o grande midas da televisão brasileira quem criou a fórmula do “horário nobre” da TV Globo. Duas novelas com um jornal no meio foi a fórmula do sucesso nos lares do país. A primeira novela das 19h às 20h, com temáticas mais leves, geralmente as chamadas novelas de época. Em seguida o Jornal Nacional, noticiário com temas nacionais e internacionais, prendia o público masculino adulto. Logo após, a novela das oito - que nunca começou no horário e agora começa depois das nove da noite -, com enredo mais complexo (crimes, traições).
A fórmula é repetida até hoje. Claro, com as adaptações do horário sob orientação do Ibope. E tudo indica que deve durar por muito mais tempo, até que a audiência da emissora no horário esteja seriamente comprometida. Se isso acontecer até nossa rotina diária poderá mudar. Quem nunca marcou um compromisso pra “depois do Jornal Nacional”?
A prova que essa mudança não está próxima são as atuais adaptações no formato dos programas. Para não mexer na fórmula de sucesso, a emissora vai tentando se manter no topo “modernizando” a programação. O grande exemplo é o que hoje acontece no Jornal Nacional, o mais conservador modelo de jornalismo ainda vigente no país.
O tradicional “jornalismo de bancada”, modelo americano copiado por todos, vem sendo alterado bastante em 2015. Mas as mudanças iniciaram pra valer com o surgimento da figura do âncora, com jornalistas (e não apresentadores) na bancada, com o consagrado William Bonner à frente. Antes os apresentadores clássicos, como Sergio Chapelin e Cid Moreira, narravam as notícias através da imposição da voz. Hoje não é preciso ter voz grave e bonita, mas ter capacidade de comentar as notícias.
Agora esse modelo de bancada também parece ir perdendo terreno. Já se pode ver os jornalistas de pé, caminhando até o telão para conversar virtualmente com os colegas repórteres ou com a garota do tempo (que agora é negra, ressalte-se). É uma mudança importante ainda que se leve em conta que nos outros dois jornais da emissora isso já acontecia. O Bom Dia Brasil e o Jornal da Globo já usam esse modelo há anos. Mas estamos tratando do Jornal Nacional, o modelo de sucesso, como já dissemos antes.
Toda essa mudança no formato quer deixar o noticiário menos formal, menos conservador. Outro dia houve uma conversa entre os jornalistas no estúdio e a garota do tempo, ao vivo, dentro do jornal. O assunto: William Bonner perguntava se a colega Maria Julia Coutinho gostava de ser chamada da Maju. Um bate-papo informal, descontraído, meio desinteressado num primeiro momento. Mas que deixou clara a nova tendência: Bonner disse que nas redes sociais era assim que a Maria Julia era chamada pelos seguidores e que, por conta disso, fazia a pergunta.
Sinal dos tempos: o Jornal Nacional começa a se pautar pelo que que está em discussão nas redes sociais?